7 de julho de 2013

A Crônica

A crônica surge na transição da Idade Média para o Renascimento como registro da história e da vida dos reis. Tornou-se, a partir do século XIX, o gênero preferido dos autores literários integrados à atividade jornalística.
Podemos destacar diversos autores da literatura brasileira que escreveram crônicas: Machado de Assis, João do Rio, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Alcântara Machado, Cecília Meireles, Clarice Lispector etc.
A crônica, geralmente, é um texto curto, narrado em primeira pessoa, ou seja, o autor dialoga com o leitor.
O cronista transmite aos seus leitores a sua visão de mundo, muitas vezes, com uma linguagem informal, espontânea e baseada em fatos cotidianos.
Outros nomes importantes da crônica brasileira que ainda estão em atividade: João Ubaldo Ribeiro, Carlos Eduardo Novaes, Carlos Heitor Cony, Marina Colasanti, Mario Prata, Ruy Castro, Luís Fernando Veríssimo etc.
 
"Gênero supostamente menor, a crônica é lida por um público infinitamente maior que o do romance ou da poesia, um público que se renova sem cessar. Gênero efêmero, atravessa galhardamente os anos, a até os séculos, assumindo funções que se sucedem, como as de distrair, informar, testemunhar, documentar, fixar a evolução do escritor e da língua, o espírito da época." (Fausto Cunha - escritor)


Sugestões de livros:
As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Diversos autores. Editora Objetiva
As Melhores Crônicas de Fernando Sabino. Editora Bestbolso
Cecília Meireles: Crônicas para jovens. Editora Global
Clarice na Cabeceira: crônicas. Clarice Lispector. Editora Rocco
Coleção "Para Gostar de Ler - Crônicas Vol. I ao VI". Editora Ática
Coleção "Crônicas para se ler na escola". Diversos autores. Editora Objetiva
Coleção "Crônicas para Jovens". Clarice Lispector. Editora Rocco
Coleção "Antologia de Crônicas". Editora Salamandra
Comédias para se ler na escola. Luís Fernando Veríssimo. Editora Objetiva
Rick e a girafa. Carlos Drummond de Andrade. Editora Ática
Paulo Mendes Campos: primeiras leituras. Editora Boa Companhia




 

30 de junho de 2013

No país do futebol

Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedor parado à porta de uma loja de eletrodomésticos e perguntou:
- Qual desses oito televisores os senhores vão ligar na hora do jogo?
- Qualquer um - disse o vendedor desinteressado.
- Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa consideração.
- Pra que o senhor quer saber?
- Para já ir tomando posição diante dele.
O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada que o acompanha ao Maracanã e sentou-se no meio da calçada.
- Ei, ei, psiu - chamou-o um mendigo recostado na parede da loja - como é que é, meu irmão?
- Que foi? - perguntou Juvenal.
- Quer me botar na miséria? Esse ponto aqui é meu.
- Eu não vou pedir esmola.
- Então senta aqui ao meu lado.
- Aí não vai dar para eu ver o jogo.
- Na hora do jogo nós vamos lá pra casa.
- Você tem TV a cores?
- Claro. Você acha que eu fico me matando aqui pra quê?
Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns amigos que não via desde a final da Copa de 78. O mendigo entendeu. E como gostou de Juvenal, lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
- Não, não. Na cabeça não.
- Por que não?
- Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
Aos poucos o público foi aumentando, operários, vendedores, contínuos, vagabundos e às 15h45 já não havia mais lugar diante das lojas de eletrodomésticos. Os retardatários corriam de uma para outra à procura de uma brecha. Alguns ficavam pulando atrás da multidão tentando enxergar a tela do aparelho.
- Quer que eu lhe ajude? - perguntou um cidadão já meio irritado com um contínuo pulando rente às suas costas.
- Quero.
- Então me diz onde é o seu controle da vertical.
- Controle da vertical, pra quê?
- Pra ver se você para de pular aqui nas minhas costas.
As lojas concentravam multidões. As calçadas da cidade, que já são poucas, desapareciam completamente. Em jogos da Seleção Brasileira, durante a semana, cresce bastante o número de atropelamentos porque o pedestre é obrigado a circular pelas ruas. Além disso, os motoristas ficam muito mais ligados no rádio do que no trânsito.
Na porta da loja onde estava Juvenal havia umas 200 pessoas do lado de fora e somente uma do lado de dentro: o gerente. Até os vendedores da loja já tinham se bandeado afirmando que assistir um jogo atrás da televisão não é a mesma coisa que vê-lo atrás do gol. Quando a bola saía entravam os comentários dos torcedores.
No início do segundo tempo, um cidadão que não se interessava por futebol (um dos 18 que a cidade abriga) foi pedindo licença à galera e com muita dificuldade conseguiu entrar na loja. O gerente foi ao seu encontro: "O senhor deseja algo?"
- Um aparelho de televisão.
- Por que o senhor não leva aquele?
- Qual?
- Aquele que está ligado ali na porta.
- É bom?
- O senhor ainda pergunta? Acha que haveria 200 pessoas diante dele se não tivesse uma boa imagem?
- Bem...
- E não é só isso - completou o gerente aproveitando a euforia do público com um gol do Brasil - que outro aparelho transmite emoções tão fortes?
- Essa gritaria toda foi diante do aparelho?
- Lógico. Esse é o novo televisor AP-007 dotado de controle de emoção. Só este televisor pode levá-lo do choro convulsivo à completa euforia.
- É mesmo? E se eu desejar vê-lo sentado quietinho na poltrona?
- Também pode, mas é aconselhável desligar o botão da emoção, se não o senhor não vai conseguir ficar quietinho na poltrona.
O cidadão convenceu-se. Disse que ia levá-lo. O gerente, precavido, pediu-lhe para ir à porta da loja apanha-lo. O cidadão não teve dúvidas. Ignorando aquela massa toda diante do seu aparelho, foi lá tranquilamente e cleck. Desligou-o.
O que aconteceu depois eu deixo por conta da imaginação de vocês.


(Carlos Eduardo Novaes)

 

21 de junho de 2013

21 de junho: 174º aniversário de Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu em 21 de junho no Rio de Janeiro. Mestiço de origem humilde, cursou apenas a escola primária, pois foi obrigado a trabalhar desde a infância.
Foi tipógrafo, revisor em casa editora, funcionário público, jornalista, crítico literário e teatral, teatrólogo, poeta, contista e romancista.
 
 
Machado de Assis: a linguagem pensante da literatura 
 
 A  vasta produção de Machado de Assis pode ser classificada em dois grupos de obras. Ao primeiro grupo pertencem "Ressurreição" (1872), "Helena" (1876), "A mão e a luva" (1874), "Iaiá Garcia" (1878), obras que apresentam características mais gerais do romance do século XIX.
"Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881) inicia uma segunda etapa da produção do escritor. A partir dessa obra, Machado revela-se um gênio da análise psicológica de personagens, tornando-se o maior contista da língua portuguesa e um dos raros romancistas de interesse universal. Nesse grupo incluem-se os romances "Quincas Borba" (1891), "Dom Casmurro" (1899), "Esaú e Jacó" (1904)  e "Memorial de Aires" (1908).
 
 Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, da qual foi aclamado presidente perpétuo. Em sua homenagem, a academia chama-se também
"Casa de Machado de Assis".
 
                                                                                                                    
Para saber mais sobre a biografia, a bibliografia e as produções do escritor, acesse:
http://www.machadodeassis.org.br/
http://machado.mec.gov.br/


Aprecie um dos textos do nosso "Bruxo do Cosme Velho":

 
O nascimento da crônica 
 
Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.

Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem. [...]

 
Para continuar a leitura de "O nascimento da crônica", acesse:
http://www.releituras.com/machadodeassis_menu.asp
 
Outras obras de Machado de Assis:

Poesia 
Crisálidas
Falenas
Americanas
Ocidentais
Poesias completas

Contos
A Carteira
Miss Dollar
O Alienista
Noite de Almirante
O Homem Célebre
Conto da Escola
Uns Braços
A Cartomante
O Enfermeiro
Trio em Lá Menor
Missa do Galo

Teatro
Hoje avental, amanhã luva - 1860
Desencantos - 1861
O caminho da porta, 1863
Quase ministro - 1864
Os deuses de casaca - 1866
Tu, só tu, puro amor - 1880
Lição de botânica - 1906 


 

 

14 de junho de 2013

Mia Couto partilha Prêmio Camões com conterrâneos

Mia Couto,  biólogo e escritor  moçambicano, autor de  "Terra Sonâmbula", "Estórias Abesonhadas", "Último voo do flamingo", "A confissão da Leoa", entre outros livros -  é o ganhador do Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura portuguesa. O anúncio do prêmio foi anunciado em maio deste ano.
Aproveito a oportunidade para homenagear este escritor que me encanta por sua linguagem e prosa poética e, que sabe entrelaçar tão bem misticismo e realidade.
 
Parabéns, Mia Couto!
 
Mia Couto partilha Prémio Camões com moçambicanos - Cultura - Notícias - RTP

http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/premios/mocambicano-mia-couto-leva-o-premio-camoes-2013/