21 de janeiro de 2022

O mundo na visão de Mario Quintana

Mario Quintana é um dos meus autores preferidos por sua versatilidade, lirismo e bom humor. Costuma deixar sempre em seus textos, ora em prosa, ora em poesia, a sua expressão de observador do cotidiano. A Sexta Poética de hoje, na página do meu Instagram (@leiturasliteratura) traz "O mundo de Deus" e aqui complemento com mais alguns textos sobre o Mundo na visão do poeta. 

Para refletir e se deliciar!


O mundo de Deus

Aquele astronauta americano que anunciou ter encontrado Deus na lua é no fim de contas menos simplório do que os primeiros astronautas russos, os quais declararam, ao voltar, não terem visto Deus no céu. 

Porque, se Deus é paz e paz é silêncio afinal, deve Ele estar mesmo muito mais na lua do que nas metrópoles terrenas.

E, pelo que me toca, a verdade é que nunca pude esquecer estas palavras de um personagem de Balzac:

"O deserto é Deus sem os homens."


O mundo

A coisa começou desde os dias já remotos da invenção do telégrafo. Depois foi o TSF, o rádio, a TV, etc. E o Tempo, atônito, engulindo o Espaço. E esse vasto mundo diminuindo, diminuindo, diminuindo... até se vir esconder covardemente dentro do nosso quarto.


Mapa-múndi

A facilidade de comunicações acabou com esses tanques em que floresciam as diferentes culturas.

Quando antes se olhava o mapa-múndi e via-se cada país de um colorido diferente, podia-se tomar isso ao pé da letra. É verdade que o mundo continuou a ser uma concha de retalhos; mas são todos da mesma cor. Bombaim, Roma, Tóquio, que se escondiam, cada um com seu peculiar mistério, nos compartimentos estanques da sua própria civilização, agora, a julgar pelos filmes, estão perfeitamente padronizados, universalizados. 

E, no mundo de hoje, para desconsolo dos descendentes de Sindbad e de Marco Polo, a única cor local das cidades famosas são os turistas. 


O outro mundo

Por favor, deixa o Outro Mundo em paz! O mistério está aqui.


História do fim do mundo

Cinco minutos depois que todas as nações do mundo decretaram mobilização geral, houve 

mobilização geral.


📙(Trechos do livro "Caderno H", Editora Globo)




13 de janeiro de 2022

Sexta Poética

Um novo ano de paz, saúde e muitas leituras a todos! 

Olá, leitores.
Quero dividir com vocês um espaço que tenho no Instagram (@leiturasliteratura): a Sexta Poética. Todas as sextas-feiras publico uma poesia, declamada em vídeo ou em texto. Desta vez, o autor escolhido foi o querido Elias José, um poeta muito conhecido da literatura infantil. Eu, particularmente, adoro! 
O livro escolhido é "Amor Adolescente" e a poesia lida será a "Na Gaveta". Como "bônus" deixo aqui mais duas poesias para vocês saborearem mais um pouco dessa doçura de poeta. 



Na Gaveta 💍📜

Nesta gaveta guardo
metade do meu mundo:
fotos, fatos, joias,
cartas de tarô, desenhos,
bilhetes de namorados, canções,
recados de amigas, poemas,
florais, defumadores,
cristais, flores secas,
o meu diário
com mil segredos anotados
e mil bugigangas
inúteis para os outros
mas riquezas para mim.

Falta na minha gaveta
o retrato de uma pessoa
que me fará esquecer de tudo,
até desta minha gaveta.


Dia de Sol 🌞

Um dia de sol
é um dia sem açúcar
nem sal.

Um dia sem sol
é picolé sem gelo,
é noite sem lua,
é história parada,
é fada enfadada,
é bruxa dorminhoca,
é domingo sem mesada,
é boletim com vermelha,
é um galo mudo,
é fantasma aposentado,
é falta de graça em tudo.

Um dia de sol
é um presente dos céus!



Observação 💖💔


Engraçado, muito engraçado,
todo o dia a gente fala:
"Estou morrendo de amor!"
e a vida fica mais intensa.

Tenho medo de um dia dizer:
"Estou vivendo sem amor!"
e a vida ficar muito vazia.



Para saber mais sobre o escritor e professor Elias José, acesse: