24 de março de 2014

Roger Mello ganha o "Nobel" da Literatura Infantil

O ilustrador Roger Mello é o ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, o "Nobel" da literatura infantil. Ele é o primeiro ilustrador brasileiro premiado nesta categoria. O anúncio do prêmio foi nesta manhã de segunda-feira, dia 24 de março, na Feira do Livro de Bolonha.
Em 2010, ele já havia sido indicado, mas não foi premiado.
Além de ilustrador, o brasiliense, nascido em 1965,  é também escritor premiado, tendo ganhado o Jabuti e vários outros prêmios literários, tornando-se hors-concours da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
 
Algumas obras de Roger Mello:
- Memórias da Ilha - ilustrador
- O medo e o mar - ilustrador
- Vizinho, vizinha - autor e ilustrador
- Todo cuidado é pouco - autor e ilustrador
- Meninos do Mangue - autor e ilustrador (Vencedor do prêmio Jabuti)
 
 
 

8 de março de 2014

8 de março - Dia Internacional da Mulher

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a poesia de Vinícius de Moraes.

Parabéns leitoras!!
 

A uma mulher             

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.
(1933)
 
 
MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
 
 
 

7 de março de 2014

O dia da catarse de Fernando Pessoa

 "A minha arte é ser eu. Eu sou muitos."
                                                                Fernando Pessoa
 
 
Dia 8 de março, completam-se 100 anos do dia em que o poeta Fernando Pessoa, teve a grande inspiração para a  criação de seus heterônimos: Alberto Caieros, o mestre pagão, Ricardo Reis, o neoclássico estoico, e Álvaro de Campos, o modernista.
 
A propensão heteronímica já povoava o espírito imaginativo e raciocinante desde a infância. Seu primeiro heterônimo foi um certo Chevalier de Pas, que Fernando Pessoa criou por volta dos seis anos, e cuja companhia preferia à dos brinquedos convencionais.
Os heterônimos são apenas indícios de algo mais fundo e determinante na obra pessoana, que é de enorme variedade de tendências e caminhos, gêneros e estilos, que a anima em todas as dimensões. Para além da heteronímia, essa obra foi todo concebida e realizada sob o signo da multiciplicidade, que o autor encara como fundamento ontológico. Fato evidente na existência dos diferentes personagens-autores que concebeu, como Caeiro, Reis, Campos, Soares e o ortônimo, e dezenas de outros, que ele apenas esboçou, como Alexander Search, Antônio Mora , Barão de Teive, Charles Robert Anon, Joaquim Moura Costa, Vicente Guedes, Raphael Baldaya, Maria José e Gaudêncio Nabos.
 
 
 
ALBERTO CAEIRO
 
"Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição."
(O guardador de rebanhos, XXX, 1914)
 
RICARDO REIS
 
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui,
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
(14-2-1033)
 
 
ÁLVARO DE CAMPOS
 
"Minhas sensações são um barco de quilha pro ar,
Minha imaginação uma âncora meio submersa,
Minha ânsia um remo partido,
E a tessitura dos meus versos uma rede a secar na praia."
(Ode marítima, 1915)
 
 
BERNARDO SOARES
 
"Nunca amamos ninguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma. é a nós mesmos - que amamos. "
(25-7-1930)
 
 
FERNANDO PESSOA
 
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir com eu existo.
 
A terra é feita de céu].
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
(Sem título, 23-5-1932)
 
 

Para saber mais leia este artigo do blog da L&PM Editores:
O dia triunfal de Fernando Pessoa


Heterônimo - Nome imaginário sob o qual um escritor cria obras de estilo, tendência e características diversas das suas, como se fossem de fato de outro autor.

Ortônimo -  Nome civil correto; nome verdadeiro, real.



Fontes:
Catálogo da Exposição "Fernando Pessoa, plural como o universo", realizada em São Paulo no Museu da Língua Portuguesa e no Rio de Janeiro, no Centro Cultural dos Correios, em 2011.
L&PM Blog.
 

6 de março de 2014

FELIZ 2014 COM MUITA LEITURA E LITERATURA!

Após um período sem atualizar este blog por motivos particulares, inicio 2014 (afinal, como dizem, o ano novo começa após o Carnaval) com trechos do livro "Caderno H" do querido autor Mario Quintana. Esse livro foi lançado em 1973 e é um dos mais característicos da obra de Quintana por sua estrutura peculiar. Reúne textos de poesias e textos em prosa a outros que associam ambas as formas.
Os trechos a seguir foram selecionados por abordar a temática leitura e literatura.
 
Bom aperitivo e boas leituras em 2014!!
 
 
A Arte de Ler
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
Educação
O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.

Dupla Delícia
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.

Poesia & Peito
Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.

Antigas e Modernas leituras
O público leitor é tímido: confunde altissonância com gênio: a imensa voga que teve na América um Vargas Villa e, na Europa, um D'Annunzio... Ninguém mais escuta esses megafones. E por aquela mesma época, pelo menos no Brasil, o público adorava quem escrevia fácil. Ninguém mais lê Coelho Netto, é verdade. Mas pra quê? Surgiram outros...
Leitura 2
Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir — até onde? — uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.

 Leituras
— Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.
— Mas eu estou só esperando que apareça. O Significado do Significado do Significado.

Leituras 2
Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar. Que ideia foi essa do teu professor?
Para que havias tu de os ler, se tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.
Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.
 
Dos Leitores
Há leitores que acham bom tudo o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas espécies irrita mais.


QUINTANA, MARIO. Caderno H. São Paulo: Ed. Globo, 2006.