29 de junho de 2023

Café com Literatura em clima machadiano

Convido os leitores a assistirem, no canal da Rádio Luz Radionica, no YouTube, ao meu programa Café com Literatura. Estes dois programas de junho que selecionei foram especiais, dedicados ao escritor Machado de Assis. O conto lido foi "A Cartomante". Curiosos? Venham provas deste Café!




 

A playlist das duas temporadas do programa estão disponíveis em https://www.youtube.com/@RadioLuzRadionica/playlists






Poesia & Poema

 A poesia pode estar em tudo: em uma situação do dia a dia, em uma imagem, em uma paisagem, em uma fotografia, na natureza, nas artes plásticas e em um poema. Isso não significa que a poesia não é exclusividade da literatura, tampouco do poema. A poesia está associada a uma atitude criativa, e não a um gênero literário. 

Um dia, perguntaram ao escritor e poeta Manuel Bandeira o que era poesia e ele respondeu:

"Eu, que desde os dez anos de idade faço versos; eu que tantas vezes sentira a poesia passar em mim como uma corrente elétrica e afluir aos meus olhos sob a forma de misteriosas lágrimas de alegria: não soube no momento forjar já não digo uma definição racional dessas, que, segundo regra a lógica, devem convir a todo o definido e só ao definido, mas uma definição puramente impírica, artística, literária."

O que seria, então, o poema?

O poema é um texto composto em versos e estrofes, em uma oposição aos textos compostos em prosa (textos escritos em parágrafos, ou seja, linhas longas). Um bom poema geralmente está carregado de poesia, mas há também poemas que recusam qualquer lirismo. São recursos muito empregados no poema: a musicalidade, a repetição e a linguagem metafórica, essa última responsável por conferir ao texto maior subjetividade.


Classificados Poéticos

Procura-se um equilibrista

que saiba caminhar na linha

que divide a noite do dia

que saiba carregar nas mãos

um fino pote cheio de fantasia

que saiba escalar nuvens arredias

que saiba construir ilhas de poesia

na vida simples de todo dia.

(Roseana Murray)





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24 de junho de 2023

O Bruxo do Cosme Velho

Em 21 de junho de 1839, um dos mais importantes escritores da literatura brasileira nascia - Joaquim Maria Machado de Assis. Ele foi poeta, cronista, contista, romancista, tradutor e crítico teatral.
O autor escreveu 9 romances, 4 livros de poesias, 7 livros de contos, 10 peças de teatro, além de crônicas e traduções de diversos clássicos da literatura.

Machado foi um "mágico" da escrita. Seu texto possui várias camadas e um leitor mais maduro desvenda rapidamente essa "magia", enquanto um leitor com menos maturidade pode até levar até muito tempo para perceber. 

BRUXARIA?

Não se sabe ao certo a origem do apelido "bruxo do Cosme Velho". Uma das hipóteses é que tenha surgido do poema "A um bruxo, com amor" de Carlos Drummond de Andrade, publicado no livro " A Vida Passada a Limpo", de 1959. A outra é que Drummond tivesse popularizado esse apelido que teve origem no objeto que está preservado no acervo da Academia Brasileira de Letras: um braseiro. Como Machado de Assis gostava de queimar suas cartas e colocava no caldeirão do lado de fora de sua casa, no Cosme Velho, os vizinhos o chamariam de "bruxo".

O que vocês acham dessas hipóteses? Quero saber!

Para aguçar ainda mais a curiosidade acerca do "Bruxo do Cosme Velho", o poema de Drummond para lermos atentos às dicas que o poeta nos dá.

A um bruxo, com amor

Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-te; e me recebes
na sala trajestada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.

Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.

Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os ministérios
e deitá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
Conheces a fundo
a geologia moral dos Lobo Neves
e essa espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.

E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosidade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?

O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurar alguma coisa
que não se estende logo
a parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
É Flora,
com olhos dotados de um mover particular
ente mavioso e pensativo;
Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
e delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de mulher nova...
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio para existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos além de viver
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?

Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.

Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eternas exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta,
sais pela janela, dissolves-te no ar.

(Carlos Drummond de Andrade)

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16 de junho de 2023

Sexta Poética

Todas as sextas-feiras, na minha página do Instagram @leiturasliteratura eu dedico à poesia. E hoje foi especial porque fiz uma transmissão "ao vivo" desse momento e foi muito bom. 

Aproveito para dividir como vocês duas poesia lidas na live desta sexta poética.


Trovas

O coração que não ama

é como noite sem luar

é como um barco sem vela,

sozinho, na praia nua.

           ********

Livrei-me da tempestade,

da cerração, dos escolhos,

mas acabei naufragando 

no recife dos teus olhos.

(Arthur de Salles)


Para celebrar a data do nascimento do poeta em 13 de junho: a poesia de Fernando Pessoa.


Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.


Tudo que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra cousa ainda.

Essa cousa é que é linda.


Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê.

("Isto", 28-2-1929)




15 de junho de 2023

De volta!

Olá, leitores!
Eu tentei mudar de "casa", mas aqui é o meu cantinho preferido, onde fico mais à vontade, por isso voltei! 

Vamos de poesia autoral?

Experimentar, 
renovar, 
ir e voltar, 
construir, 
reformar,
transformar,
transmutar
e aprender 
a recomeçar!


Bem-vindos, de novo!!