11 de janeiro de 2024

Poesia para Crianças

Poesia para crianças tem que ser de boa qualidade, pois criança não é um ser bobinho como muitos pensam. 

Poesia para cativar e encantar uma criança tem que ser bonita, envolvente, instigar, cutucar a imaginação, ser surpreendente, mexer com a emoção, mexer com as sensações, mostrar algo especial ao mundo dela, divertir, fazer sonhar, ser gostosa, ser lúdica, brincar com as palavras, ser inusitada, mostrar algo de diferente, ser especial...

Em nossa literatura infantil há muitos poetas que brincam com as palavras de um jeito especial, gostoso, leve, que encantam uma criança a ouvir ou a ler poesia. Esses escritores usam de recursos como jogos de palavras, repetição de fonemas, ritmo, musicalidade e vão juntando isso tudo para dar a ludicidade verbal, sonora e até musical às palavras que compõe o poema. 

Segundo José Paulo Paes, em seu livro "É isso ali": "Toda poesia tem que ter uma surpresa. Se não tiver, não é poesia: é papo furado."

Para ilustrar tudo isso, quatro poemas infantis de grandes autores da nossa literatura:


O grilo grilado (Elias José)

O grilo
coitado,
anda grilado.
E eu sei
o que há.
Salta pra aqui
salta pra ali
Cri-cri pra cá
cri-cri pra lá.
O grilo
coitado,
anda grilado
e não quer contar.
No fundo
não ilude.
É só reparar
em sua atitude
pra se desconfiar.
O grilo
coitado
anda grilado
e quer um analista
e quer um doutor.
Seu grilo,
eu sei:
o seu grilo
é um grilo
de amor.


Roda na rua (Cecília Meireles)

Roda na rua
a roda do carro.

Roda na rua
a roda das danças.

A roda na rua
rodava no barro.

Na roda da rua
rodavam crianças.

O carro, na rua.


O Pinguim (Vinícius de Moraes)

Bom dia, pinguim
Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado
Com medo de mim
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca

Quando você caminha
Parece o Chacrinha
Lelé da caixola
E um velho senhor
Que foi meu professor
No meu tempo de escola
Pinguim, meu amigo
Não zangue comigo
Nem perca a estribeira
Não pergunte por quê
Mas todos põem você
Em cima da geladeira


Ritmo (Mario Quintana)

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa

Até que enfim
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ se desenrola
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

🎲🏀🎨🎈🎡🎪

Fonte: 
Livro "Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices", de Fanny Abramovich. Ed. Scipione.






2 de janeiro de 2024

Feliz Ano Novo, leitores!

Chegou 2024!! E junto com ele, os nossos sonhos, nossos planos, nossas listas, nossas esperanças...

Desejo a todos que passarem por aqui, leitores do blog ou não, um novo ano de muita saúde, paz, prosperidade e muitas leituras. Para brindar mais um ano de Leituras & Literatura, três poemas com o tema "ano novo" de três dos poetas que mais admiro (acho que muito de vocês também): Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e Mario Quintana. 

Que a poesia esteja sempre em nossas vidas para nos encantar e nos fazer ter 

ES-PE-RAN-ÇA. 💖


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)

💖

Ano Novo 

Meia-noite. Fim

de um ano, início

de outro. Olho o céu:

nenhum indício.

Olho o céu:

o abismo vence o

olhar. O mesmo

espantoso silêncio

da Via-Láctea feito

um ectoplasma

sobre a minha cabeça

nada ali indica

que um ano novo começa.

E não começa

nem no céu nem no chão

do planeta:

começa no coração.

Começa como a esperança

de vida melhor

que entre os astros

não se escuta

nem se vê

nem pode haver:

que isso é coisa de homem

esse bicho

estelar

que sonha

(e luta).

(Ferreira Gullar)

💖

Esperança 

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

(Mario Quintana)

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