16 de março de 2023

Voltarei em breve!

 Leitores queridos!!

Senti falta de estar aqui com vocês nesta plataforma e... em breve, voltarei a publicar novidades.

Aguardem!!





18 de abril de 2022

Homenagem à Monteiro Lobato

Hoje, 18 de abril, é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. A data foi escolhida por ser o dia do nascimento do escritor Monteiro Lobato

Na quinta-feira passada, fiz uma homenagem ao autor em meu programa Café com Literatura que está disponível no Canal da Rádio Luz Radionica, no YouTube. Para presentear os meus leitores, disponibilizei aqui também o vídeo do programa. Há uma playlist disponível com todos os programas para vocês acessarem e se deliciarem com essa oportunidade de encantamento literário.

Neste 7º programa, além da vida e obra de Monteiro Lobato, leio uma fábula que vai dar o que falar... Viajem comigo nessa aventura!





17 de abril de 2022

Um poema para a Páscoa

Acaso é este encontro

entre o tempo e o espaço

mais do que um sonho que eu conto

ou mais um poema que eu faço?

(Paulo Leminski)


E não é por acaso que escolhi Leminski para brindar este dia especial que é o domingo de Páscoa. Ele que foi um autor que revitalizou a nossa poesia contemporânea com leveza, inteligência, sensibilidade, emoção, a vanguarda e o pop. Um dos autores que ainda continua a influenciar poetas e letristas das novas gerações.

Quando estava pesquisando um poema para o dia de hoje, achei este de Leminski. A primeira vista parece tão ingênuo, mas se lermos mais de uma vez, podemos perceber o tom da crítica nas entrelinhas e nos rendemos a sua genialidade como poeta.

Páscoa é renovação, revelação, renascimento. Que a poesia, assim como a vida, seja sempre renovada e celebrada!

Feliz Páscoa, leitores!! 🐇 🌷


O Ovo do Coelho

Coelho não bota ovo,
quem bota ovo é galinha.
Mas eu conheço um coelho
que é mesmo uma maravilha.

Os ovos que ele bota,
você nem imagina.
São ovos de chocolate
ou ovos de baunilha.

Por isso, nosso coelho
foi expulso da família.
O pai dele disse: – Meu filho,
isso é coisa de galinha.

O coelho respondeu rapidamente:
– Meu pai eu não tenho culpa,
botar ovo é meu destino.
Se não posso botar ovos em casa,
prefiro botar sozinho.

E foi assim que o coelho
saiu de casa para a rua,
botando ovo na Páscoa,

no sonho de todo mundo. 

(Paulo Leminski)





31 de março de 2022

Ler também é tecer sonhos

 No 3º programa "Café com Literatura" do mês de março, que homenageei as escritoras brasileiras, por ser o mês das mulheres, foi a vez da autora premiada Marina Colasanti. Como não se encantar com essa narrativa cheia de sutilezas e uma boa dose de magia? 

 



A moça tecelã 

 Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite.  E logo sentava-se ao tear.


          Linha clara, para começar o dia.  Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

          Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

          Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo.  Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido.  Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

          Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

          Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

          Nada lhe faltava.  Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas.  E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido.  Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete.  E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.

          Tecer era tudo o que fazia.  Tecer era tudo o que queria fazer.

          Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

          Não esperou o dia seguinte.  Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.  Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

          Nem precisou abrir.  O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

          Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

          E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu.  Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

          — Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher.  E parecia justo, agora que eram dois.  Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

          Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
     — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou.  Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

          Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia.  Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

          Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
          — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

          Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados.  Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

          E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros.  E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

         Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

          Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. 

          A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar.  Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas.  Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

          Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara.  E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.