20 de agosto de 2011

Mais uma paixão: a crônica.

A crônica é um gênero que tem relação com a ideia de tempo e consiste em relatar fatos do cotidiano. Ao passar para o livro, a crônica deixou de ser um texto de consumo rápido e passou a ser lida mais cuidadosamente - o que a valoriza.
Na escola, encantei-me com a coleção "Para Gostar de Ler", da qual eu recomendo, por selecionar textos preciosos de vários gêneros literários.
Meus cronistas preferidos são: Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Luís Fernando Veríssimo, Carlos Eduardo Novaes e Martha Medeiros.



"Chatear" ou "encher"
                                               Paulo Mendes Campos


Um amigo meu me ensina a diferença entre "chatear" e "encher".
Chatear é assim:
Você telefona para um escritório qualquer na cidade.

- Alô! Quer me chamar por favor o Valdemar?
- Aqui não tem nenhum Valdemar.

Daí a alguns minutos você liga de novo:
- O Valdemar, por obséquio.
- Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
- Mas não é do número tal?
- É, mas aqui não trabalha nenhum Valdemar.

Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
- Por favor, o Valdemar já chegou?
- Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?
- Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
- Não chateia.

Daí a dez minutos, liga de novo.
- Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.

Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:

- Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou para mim?

Antologia da Crônica Brasileira: de Machado de Assis à Lourenço Diaféria / organização
e apresentação de Douglas Tufano. São Paulo: Moderna, 2005. p.137-138.

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