30 de outubro de 2013

31 de outubro: O Dia D de Drummond

"E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!"
(Do poema "Eterno")


Um poeta de alma e ofício. Assim era Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), natural de Itabira, Minas Gerais, nascido em 31 de outubro.  Dedicou-se ao jornalismo e ingressou no funcionalismo público. Fez parte da segunda fase do Modernismo - a poesia de 30.
Drummond foi poeta e cronista admirável. A dimensão e a riqueza de seus textos produzidos de 1930 a 1986 ainda requerem pesquisas e investigações profundas. Dada a farta produção poética, a organização de suas obras permite acompanhar a evolução de seus temas, de sua visão de mundo e de seus traços estilísticos.
Carlos Drummond de Andrade foi a maior expressão poética da literatura brasileira no século XX.


Para saber mais, acesse a biografia:
 
                         
                                                   
Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada. O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo. 


(De Alguma poesia, 1930)
 
                                    
 
   "Que pode uma criatura senão
entre criaturas, amar? 
 (Do poema, "Amar")

 
Política literária
                            A Manuel Bandeira
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
 
(De Brejo das Almas, 1934) 
 
 
Canção para álbum de moça
 
Bom-dia sempre: se acaso
a resposta vier fria ou tarde vier,
contudo esperarei o bom-dia.
E sobre casas compactas
sobre o vale e a serrania
irei repetindo manso
a qualquer hora: bom dia.
Nem a moça põe reparo
não sente, não desconfia
o que há de carinho preso
no cerne deste bom-dia.
Bom dia: repito à tarde
à meia-noite: bom dia.
E de madrugada vou
pintando a cor de meu dia
que a moça possa encontrá-lo
azul e rosa: bom dia.
Bom dia: apenas um eco na mata
(mas quem diria)
decifra minha mensagem,
deseja bom o meu dia.
A moça, sorrindo ao longe
não sente, nessa alegria,
o que há de rude também
no clarão deste bom-dia.
De triste, túrbido, inquieto,
noite que se denuncia
e vai errante, sem fogos,
na mais louca nostalgia.
Ah, se um dia respondesses
Ao meu bom-dia: bom dia!
Como a noite se mudara
no mais cristalino dia!

(De Claro Enigma, 20.ed. 2011) 
 
 
 Os dez melhores poemas, segundo a Revista Bula: 
 
 
 
"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."
(Carlos Drummond de Andrade)
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são bem-vindos!