5 de fevereiro de 2013

Poesia
Vende-se
 
Um livro de literatura (seja lá o que isso queira significar) é a mais singular das mercadorias. Quando compra uma caixa de sabão em pó, você sabe que, no mínimo, aquele produto vai deixar sua roupa mais branca, uns mais, outros menos.
No caso do livro de literatura, a situação é bem diversa.
Ao comprar um romance, você quase não sabe nada sobre ele. Será emocionante? Será tedioso? Quem sabe, um grande romance, mas para outras pessoas que não eu.
Os riscos aumentam extraordinariamente quando você compra um livro de poemas. Aí sim você está no mato sem cachorro.
No início do século, não, você pisava em terreno seguro.
Poesia era caixinha de bombons chamada soneto, um pedaço bem cortado de frases enfeitadas, que emitia sempre o mesmo plim. Como um canário na gaiola ou uma caixinha de música.
Nos tempos de Bilac (final do século XIX), você sabia o que comprava. Nos anos 20 (do século XX), os modernistas de São Paulo, influenciados por doutrinas alienígenas, dinamitaram a central elétrica. E, em lugar do verbo agradar, passaram a conjugar o verbo agredir.
De lá pra cá, as coisas se tornaram nebulosas. A literatura era uma certeza e uma tranquilidade. O Modernismo transformou em problema. De agora em diante, cada escritor tem que viver, em si mesmo, todo o processo da literatura, de Homero até o best-seller de ontem à tarde. Os mapas se perderam. As pistas foram apagadas. E as tábuas de lei voltaram ao pó donde vieram.
As ordens voltaram ao caos primordial. Não há mais normas. Cada um está condenado a ser o próprio legislador.
E ao confeccionar sua própria receita, programar, sozinho, seu próprio processo de criação. Ser o único responsável pelo software da sua produção. Ao contrário do que dizem, a poesia concreta paulista, nos anos 60, ampliou ainda mais o indeterminado dessa liberdade, sabe Deus se bênção ou maldição.
Liberdade de escrever no plano e até no volume (e não mais apenas na linha). Liberdade de construir novos vocabulários, novas grafias, novas sintaxes. Não há outro jeito. A crise virou substância.
Poesia viva, hoje, é a que já nasce se perguntando:
- Poesia, ah, poesia, que diabo isso quer dizer?
(Por falar nisso, alguém aí quer comprar a minha crise?)

Paulo Leminski

"A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão."
     

 

Poesias e biografia de Paulo Leminski:

27 de janeiro de 2013

Retrato de uma cidade - na visão de Drummond

Carlos Drummond de Andrade, meu poeta querido, que me encanta sempre. Nunca é demais relembrá-lo.
Em  http://drummond.memoriaviva.com.br, descubro um poema que eu desconhecia: "Retrato de uma cidade" - que descreve com  maestria os encantos da nossa cidade maravilhosa. Uma homenagem apaixonada de um mineiro com alma carioca.
Destaco alguns trechos, como aperitivo:

"Tem nome de rio esta cidade
onde brincam os rios de esconder.
Cidade feita de montanha
em casamento indissolúvel
com o mar. (...)"


"(...)Eis que um frenesi ganha este povo,
risca o asfalto da avenida, fere o ar.
O Rio toma forma de sambista.
É puro carnaval, loucura mansa,
a reboar no canto de mil bocas,
de dez mil, de trinta mil, de cem mil bocas,
no ritual de entrega a um deus amigo,
deus veloz que passa e deixa
rastro de música no espaço
para o resto do ano.


"(...) Este Rio peralta!
Rio dengoso, erótico, fraterno,
aberto ao mundo, laranja
de cinquenta sabores diferentes
(alguns amargos, por que não?),
laranja toda em chama, sumarenta
de amor.
Repara, repara nas nuvens; vão desatando
bandeiras de púrpura e violeta
sobre os montes e o mar.
Anoitece no Rio. A noite é luz sonhando."


Leia a poesia completa em:
http://drummond.memoriaviva.com.br/alguma-poesia/retrato-de-uma-cidade/

 
 
 

26 de janeiro de 2013

Max e os Felinos X Life of Pi


O escritor Moacyr Scliar fala sobre a polêmica envolvendo seu livro "Max e os Felinos" e a obra "Life of Pi", do canadense Yann Martel, nesta entrevista realizada pela LP&M Editores.
Moacyr Scliar revela que não pretende processar o autor canadense por plágio, pois além do transtorno que isso causaria, também não considera que usar a ideia dos outros seja um plágio. Plágio, segundo ele, é copiar uma obra inteira. O que mais o aborreceu foi o fato de Yann Martel dizer que não leu o livro, e sim uma resenha (que até o momento, a fonte, não foi confirmada).


                             
            



 

23 de janeiro de 2013

A prosa poética de Mia Couto


Natural da Beira, Moçambique, Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos de língua portuguesa.
António Emílio Leite Couto é conhecido por Mia desde a infância. Há duas versões para a origem do apelido, uma delas diz que quando ele tinha entre dois ou três anos pensava que era um gato e alimentava-se como eles.  A outra versão para  “Mia” vem do fato do irmão menor não conseguir pronunciar “Emílio”.
Biografia disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mia_Couto

 
Mia Couto é um “escritor da terra”, escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a própria natureza humana na sua relação umbilical com a terra.
A sua linguagem fértil em neologismos, confere o atributo singular de percepção e interpretação da beleza interna das coisas.  
É o único africano membro da Academia Brasileira de Letras.
Atualmente é o autor moçambicano mais traduzido e divulgado no estrangeiro.
Seu último livro, "A confissão da leoa", é inspirado em fatos reais. São dois narradores que se alternam, o caçador e a moradora da aldeia de Kulumani.  O caçador é enviado à região para liquidar os leões que aterrorizam a aldeia, e se depara com situações complexas.
Um drama denso que mistura mito e realidade. Para os fãs, imperdível.