6 de março de 2014

FELIZ 2014 COM MUITA LEITURA E LITERATURA!

Após um período sem atualizar este blog por motivos particulares, inicio 2014 (afinal, como dizem, o ano novo começa após o Carnaval) com trechos do livro "Caderno H" do querido autor Mario Quintana. Esse livro foi lançado em 1973 e é um dos mais característicos da obra de Quintana por sua estrutura peculiar. Reúne textos de poesias e textos em prosa a outros que associam ambas as formas.
Os trechos a seguir foram selecionados por abordar a temática leitura e literatura.
 
Bom aperitivo e boas leituras em 2014!!
 
 
A Arte de Ler
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
Educação
O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.

Dupla Delícia
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.

Poesia & Peito
Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.

Antigas e Modernas leituras
O público leitor é tímido: confunde altissonância com gênio: a imensa voga que teve na América um Vargas Villa e, na Europa, um D'Annunzio... Ninguém mais escuta esses megafones. E por aquela mesma época, pelo menos no Brasil, o público adorava quem escrevia fácil. Ninguém mais lê Coelho Netto, é verdade. Mas pra quê? Surgiram outros...
Leitura 2
Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir — até onde? — uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.

 Leituras
— Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.
— Mas eu estou só esperando que apareça. O Significado do Significado do Significado.

Leituras 2
Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar. Que ideia foi essa do teu professor?
Para que havias tu de os ler, se tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.
Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.
 
Dos Leitores
Há leitores que acham bom tudo o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas espécies irrita mais.


QUINTANA, MARIO. Caderno H. São Paulo: Ed. Globo, 2006.

 
 

15 de dezembro de 2013

O Natal por Drummond

Natal às avessas
                              
Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai  entrou compenetrado.
Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.
Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do  aperto.
Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.
Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

Carlos Drummond de Andrade

 
 Leiam, também, a deliciosa crônica de Drummond "Este Natal" em:
 
 Um aperitivo para aguçar a curiosidade dos leitores:
 
 
Este Natal
 
— Este Natal anda muito perigoso — concluiu João Brandão, ao ver dois PM travarem pelos braços o robusto Papai Noel, que tentava fugir, e o conduzirem a trancos e barrancos para o Distrito. Se até Papai Noel é considerado fora-da-lei, que não acontecerá com a gente? (...)

18 de novembro de 2013

Algumas maneiras de incentivar o gosto pela leitura

Inspirada pela Revista Educar, da APPAI, segue uma lista de boas sugestões para incentivar o amor pelos livros:
 
  1. Presentear bebês com livros de pano ou borracha. Hoje em dia, está mais fácil de encontrar esse material em boas livrarias.
  2. Ler para as crianças na hora de dormir.
  3. Comprar gibis para presentear a garotada.
  4. Ler uma poesia para quem a gente ama. Vale também copiar um poema de um livro num cartão e dar junto com um presente para uma pessoa querida. Isso sempre emociona.
  5. Dar um guia de viagem para quem irá viajar ao exterior ou mesmo para uma outra cidade.
  6. Levar sempre um livro na bolsa quando sair de casa.
  7. Emprestar e tomar livros emprestados.
  8. Frequentar bibliotecas e livrarias.
  9. Nada mais bonito e incentivador do que a escola presentear seus educadores com livros.
  10. Estimular as pessoas a dar continuidade aos seus estudos.
  11. Ensinar um adulto a ler. Nem sempre alfabetizar significa formar leitores. A leitura está associada ao amor pelas palavras, pela linguagem, pela vida.
  12. Assinar revistas ou jornais do seu interesse.
  13. Dica para o professor: antes de começar a aula, escrever na lousa algum pensamento de um autor importante, alguns versos ou um haicai.
  14. Contar para o outro a história de um livro de que gostou demais.
  15. Ler a biografia de alguém que a gente admira.
  16. Colocar livros e revistas no bidê. Muita gente gosta de ler no banheiro.
  17. Cantar com a letra de música nas mãos.
  18. Colecionar catálogos de livros das editoras para entender o perfil de cada uma.
  19. Enviar e-mails para os amigos sugerindo bons livros.
  20. Aproveitar para ler na fila do banco, no ônibus (para quem não enjoa), no metrô, no trem ou no consultório médico.
  21. Dar livros de receitas para quem adora cozinhar.
  22. Ler a cidade, ler um amigo, ler um animal, ler a chuva caindo, ler um jardim, ler a lua, ler as estrelas...
  23. Abraçar um livro quando acabamos a leitura. O outro ficará extremamente curioso para saber por que fizemos aquilo; o que o livro tem de tão bom assim a ponto de merecer um abraço?




Fonte:
Revista Educar, Ano 16, nº 84, da APPAI - Associação Beneficente de Professores Públicos Ativos e Inativos.



30 de outubro de 2013

31 de outubro: O Dia D de Drummond

"E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!"
(Do poema "Eterno")


Um poeta de alma e ofício. Assim era Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), natural de Itabira, Minas Gerais, nascido em 31 de outubro.  Dedicou-se ao jornalismo e ingressou no funcionalismo público. Fez parte da segunda fase do Modernismo - a poesia de 30.
Drummond foi poeta e cronista admirável. A dimensão e a riqueza de seus textos produzidos de 1930 a 1986 ainda requerem pesquisas e investigações profundas. Dada a farta produção poética, a organização de suas obras permite acompanhar a evolução de seus temas, de sua visão de mundo e de seus traços estilísticos.
Carlos Drummond de Andrade foi a maior expressão poética da literatura brasileira no século XX.


Para saber mais, acesse a biografia:
 
                         
                                                   
Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada. O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo. 


(De Alguma poesia, 1930)
 
                                    
 
   "Que pode uma criatura senão
entre criaturas, amar? 
 (Do poema, "Amar")

 
Política literária
                            A Manuel Bandeira
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
 
(De Brejo das Almas, 1934) 
 
 
Canção para álbum de moça
 
Bom-dia sempre: se acaso
a resposta vier fria ou tarde vier,
contudo esperarei o bom-dia.
E sobre casas compactas
sobre o vale e a serrania
irei repetindo manso
a qualquer hora: bom dia.
Nem a moça põe reparo
não sente, não desconfia
o que há de carinho preso
no cerne deste bom-dia.
Bom dia: repito à tarde
à meia-noite: bom dia.
E de madrugada vou
pintando a cor de meu dia
que a moça possa encontrá-lo
azul e rosa: bom dia.
Bom dia: apenas um eco na mata
(mas quem diria)
decifra minha mensagem,
deseja bom o meu dia.
A moça, sorrindo ao longe
não sente, nessa alegria,
o que há de rude também
no clarão deste bom-dia.
De triste, túrbido, inquieto,
noite que se denuncia
e vai errante, sem fogos,
na mais louca nostalgia.
Ah, se um dia respondesses
Ao meu bom-dia: bom dia!
Como a noite se mudara
no mais cristalino dia!

(De Claro Enigma, 20.ed. 2011) 
 
 
 Os dez melhores poemas, segundo a Revista Bula: 
 
 
 
"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."
(Carlos Drummond de Andrade)