24 de junho de 2023

O Bruxo do Cosme Velho

Em 21 de junho de 1839, um dos mais importantes escritores da literatura brasileira nascia - Joaquim Maria Machado de Assis. Ele foi poeta, cronista, contista, romancista, tradutor e crítico teatral.
O autor escreveu 9 romances, 4 livros de poesias, 7 livros de contos, 10 peças de teatro, além de crônicas e traduções de diversos clássicos da literatura.

Machado foi um "mágico" da escrita. Seu texto possui várias camadas e um leitor mais maduro desvenda rapidamente essa "magia", enquanto um leitor com menos maturidade pode até levar até muito tempo para perceber. 

BRUXARIA?

Não se sabe ao certo a origem do apelido "bruxo do Cosme Velho". Uma das hipóteses é que tenha surgido do poema "A um bruxo, com amor" de Carlos Drummond de Andrade, publicado no livro " A Vida Passada a Limpo", de 1959. A outra é que Drummond tivesse popularizado esse apelido que teve origem no objeto que está preservado no acervo da Academia Brasileira de Letras: um braseiro. Como Machado de Assis gostava de queimar suas cartas e colocava no caldeirão do lado de fora de sua casa, no Cosme Velho, os vizinhos o chamariam de "bruxo".

O que vocês acham dessas hipóteses? Quero saber!

Para aguçar ainda mais a curiosidade acerca do "Bruxo do Cosme Velho", o poema de Drummond para lermos atentos às dicas que o poeta nos dá.

A um bruxo, com amor

Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-te; e me recebes
na sala trajestada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.

Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.

Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os ministérios
e deitá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
Conheces a fundo
a geologia moral dos Lobo Neves
e essa espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.

E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosidade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?

O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurar alguma coisa
que não se estende logo
a parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
É Flora,
com olhos dotados de um mover particular
ente mavioso e pensativo;
Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
e delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de mulher nova...
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio para existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos além de viver
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?

Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.

Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eternas exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta,
sais pela janela, dissolves-te no ar.

(Carlos Drummond de Andrade)

Adicionar à playlistTamanhoAACifraImprimirCorrigirMarcações na letraC




16 de junho de 2023

Sexta Poética

Todas as sextas-feiras, na minha página do Instagram @leiturasliteratura eu dedico à poesia. E hoje foi especial porque fiz uma transmissão "ao vivo" desse momento e foi muito bom. 

Aproveito para dividir como vocês duas poesia lidas na live desta sexta poética.


Trovas

O coração que não ama

é como noite sem luar

é como um barco sem vela,

sozinho, na praia nua.

           ********

Livrei-me da tempestade,

da cerração, dos escolhos,

mas acabei naufragando 

no recife dos teus olhos.

(Arthur de Salles)


Para celebrar a data do nascimento do poeta em 13 de junho: a poesia de Fernando Pessoa.


Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.


Tudo que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra cousa ainda.

Essa cousa é que é linda.


Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê.

("Isto", 28-2-1929)




15 de junho de 2023

De volta!

Olá, leitores!
Eu tentei mudar de "casa", mas aqui é o meu cantinho preferido, onde fico mais à vontade, por isso voltei! 

Vamos de poesia autoral?

Experimentar, 
renovar, 
ir e voltar, 
construir, 
reformar,
transformar,
transmutar
e aprender 
a recomeçar!


Bem-vindos, de novo!!





16 de março de 2023

Voltarei em breve!

 Leitores queridos!!

Senti falta de estar aqui com vocês nesta plataforma e... em breve, voltarei a publicar novidades.

Aguardem!!