15 de dezembro de 2013

O Natal por Drummond

Natal às avessas
                              
Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai  entrou compenetrado.
Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.
Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do  aperto.
Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.
Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

Carlos Drummond de Andrade

 
 Leiam, também, a deliciosa crônica de Drummond "Este Natal" em:
 
 Um aperitivo para aguçar a curiosidade dos leitores:
 
 
Este Natal
 
— Este Natal anda muito perigoso — concluiu João Brandão, ao ver dois PM travarem pelos braços o robusto Papai Noel, que tentava fugir, e o conduzirem a trancos e barrancos para o Distrito. Se até Papai Noel é considerado fora-da-lei, que não acontecerá com a gente? (...)

18 de novembro de 2013

Algumas maneiras de incentivar o gosto pela leitura

Inspirada pela Revista Educar, da APPAI, segue uma lista de boas sugestões para incentivar o amor pelos livros:
 
  1. Presentear bebês com livros de pano ou borracha. Hoje em dia, está mais fácil de encontrar esse material em boas livrarias.
  2. Ler para as crianças na hora de dormir.
  3. Comprar gibis para presentear a garotada.
  4. Ler uma poesia para quem a gente ama. Vale também copiar um poema de um livro num cartão e dar junto com um presente para uma pessoa querida. Isso sempre emociona.
  5. Dar um guia de viagem para quem irá viajar ao exterior ou mesmo para uma outra cidade.
  6. Levar sempre um livro na bolsa quando sair de casa.
  7. Emprestar e tomar livros emprestados.
  8. Frequentar bibliotecas e livrarias.
  9. Nada mais bonito e incentivador do que a escola presentear seus educadores com livros.
  10. Estimular as pessoas a dar continuidade aos seus estudos.
  11. Ensinar um adulto a ler. Nem sempre alfabetizar significa formar leitores. A leitura está associada ao amor pelas palavras, pela linguagem, pela vida.
  12. Assinar revistas ou jornais do seu interesse.
  13. Dica para o professor: antes de começar a aula, escrever na lousa algum pensamento de um autor importante, alguns versos ou um haicai.
  14. Contar para o outro a história de um livro de que gostou demais.
  15. Ler a biografia de alguém que a gente admira.
  16. Colocar livros e revistas no bidê. Muita gente gosta de ler no banheiro.
  17. Cantar com a letra de música nas mãos.
  18. Colecionar catálogos de livros das editoras para entender o perfil de cada uma.
  19. Enviar e-mails para os amigos sugerindo bons livros.
  20. Aproveitar para ler na fila do banco, no ônibus (para quem não enjoa), no metrô, no trem ou no consultório médico.
  21. Dar livros de receitas para quem adora cozinhar.
  22. Ler a cidade, ler um amigo, ler um animal, ler a chuva caindo, ler um jardim, ler a lua, ler as estrelas...
  23. Abraçar um livro quando acabamos a leitura. O outro ficará extremamente curioso para saber por que fizemos aquilo; o que o livro tem de tão bom assim a ponto de merecer um abraço?




Fonte:
Revista Educar, Ano 16, nº 84, da APPAI - Associação Beneficente de Professores Públicos Ativos e Inativos.



30 de outubro de 2013

31 de outubro: O Dia D de Drummond

"E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!"
(Do poema "Eterno")


Um poeta de alma e ofício. Assim era Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), natural de Itabira, Minas Gerais, nascido em 31 de outubro.  Dedicou-se ao jornalismo e ingressou no funcionalismo público. Fez parte da segunda fase do Modernismo - a poesia de 30.
Drummond foi poeta e cronista admirável. A dimensão e a riqueza de seus textos produzidos de 1930 a 1986 ainda requerem pesquisas e investigações profundas. Dada a farta produção poética, a organização de suas obras permite acompanhar a evolução de seus temas, de sua visão de mundo e de seus traços estilísticos.
Carlos Drummond de Andrade foi a maior expressão poética da literatura brasileira no século XX.


Para saber mais, acesse a biografia:
 
                         
                                                   
Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada. O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo. 


(De Alguma poesia, 1930)
 
                                    
 
   "Que pode uma criatura senão
entre criaturas, amar? 
 (Do poema, "Amar")

 
Política literária
                            A Manuel Bandeira
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
 
(De Brejo das Almas, 1934) 
 
 
Canção para álbum de moça
 
Bom-dia sempre: se acaso
a resposta vier fria ou tarde vier,
contudo esperarei o bom-dia.
E sobre casas compactas
sobre o vale e a serrania
irei repetindo manso
a qualquer hora: bom dia.
Nem a moça põe reparo
não sente, não desconfia
o que há de carinho preso
no cerne deste bom-dia.
Bom dia: repito à tarde
à meia-noite: bom dia.
E de madrugada vou
pintando a cor de meu dia
que a moça possa encontrá-lo
azul e rosa: bom dia.
Bom dia: apenas um eco na mata
(mas quem diria)
decifra minha mensagem,
deseja bom o meu dia.
A moça, sorrindo ao longe
não sente, nessa alegria,
o que há de rude também
no clarão deste bom-dia.
De triste, túrbido, inquieto,
noite que se denuncia
e vai errante, sem fogos,
na mais louca nostalgia.
Ah, se um dia respondesses
Ao meu bom-dia: bom dia!
Como a noite se mudara
no mais cristalino dia!

(De Claro Enigma, 20.ed. 2011) 
 
 
 Os dez melhores poemas, segundo a Revista Bula: 
 
 
 
"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."
(Carlos Drummond de Andrade)
 

29 de outubro de 2013

29 de outubro - Dia Nacional do Livro

A primeira biblioteca do Brasil disponibilizava um acervo bibliográfico valioso, vindos da Real Biblioteca Portuguesa. As primeiras acomodações da Biblioteca foram em salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro.
Em 29 de outubro de 1810 foi fundada pela coroa portuguesa a Biblioteca Nacional do Livro.
 
Após a criação da prensa tipográfica, por Johannes Gutenberg (1398-1468), deu-se a publicação do primeiro livro em série, que foi conhecida como "a Bíblia de Gutenberg". Essa invenção marcou a passagem da era medieval para a era moderna.
 
O primeiro livro publicado no Brasil foi "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga. Na época, o imperador do país fazia uma leitura prévia dos mesmos, a fim de liberar ou não o seu conteúdo.
Em 1925, Monteiro Lobato, escritor e editor, fundou a Companhia Editora Nacional, intensificando o movimento editorial no Brasil.




"Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca."
                                                         (Jorge Luís Borges)