18 de julho de 2016

Poesia Social

Hoje, pensei em Ferreira Gullar e, ao mesmo tempo, lembrei de um poema dele, atemporal.
Para bom entendedor, um poema inteiro basta.

Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço do arroz
não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em seus arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede nem cheira.



(GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980. p. 224)



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