20 de maio de 2013

O poeta da condição humana: Carlos Nejar

O jornalista e crítico literário Franklin de Oliveira (1916-2000), disse, certa vez, que Carlos Nejar era um dos grandes nomes da poesia brasileira de todos os tempos, e não apenas da contemporânea.
Eu conheci a poesia de Carlos Nejar,  pela primeira vez, ainda na adolescência através de um livro que meu pai deu-me de presente - "Vozes do Brasil: Auto de Romaria". Sobre essa obra escreveu Antônio Carlos Villaça: "(...) Vozes do Brasil, que se torna logo o grande poema do Brasil do nosso tempo, um poema indispensável e definitivo. A multiplicidade da unidade. (...) une o simples, o coloquial, o cotidiano aos voos mais inesperados de uma inspiração que incessantemente se renova." E foi assim que fui conquistada através desse livro, uma produção poética indispensável, um auto de muitas vozes. 
Sua linguagem é própria, densa, articulada e forte. Ela já foi comparada a uma labareda que nos consome. Sim, é desse jeito que sinto ao lê-lo.
 
Carlos Nejar, nome literário de  Luiz Carlos Verzoni Nejar, nasceu em 11 de janeiro de 1939, em Porto Alegre, RS. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na PUC do Rio Grande do Sul, em 1962. Integrou no Ministério Público gaúcho em 1963. Foi curador dos Registros Públicos, do Conselho Penitenciário, da Fundação de Economia e Estatística e assessor do procurador da Justiça. Esteve várias vezes em Lisboa em trabalhos culturais e residiu durante o ano de 1983 em Portugal.
Lançou o seu primeiro livro "Sélesis" em 1960. Ganhou vários prêmios literários, entre eles, o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional (2000).
É membro da Academia de Letras e pai do poeta e escritor Carlos Carpinejar.
 
 
Para saber mais, acesse:
 
Recomendo:
Vozes do Brasil: Auto da Romaria. Ed. José Olympio.
Amar, a mais alta constelação. Ed. Jose Olympio.
Breve história do mundo. Ed. Ediouro.

 
SINTAXE
Eu me acrescento aos rios e os rios me descem.
E me acrescento aos peixes. Neles deito
e com os musgos preparo alguns projetos.
Nos liquens boto andaimes que florescem.
E me caso com as pedras, conchas e ecos,
onde as lesmas pernaltas se intumescem.
E me acrescento a todos os espécimes
que se aleitam na orla, entre os insetos.
 
Ovos de larvas, vespas renitentes
e os mais jovens orvalhos em resíduos
se acendem. Borboletas se acrescentam
 
à sintaxe de um sol  intermitente.
E eu vento, vento algas e libidos.
E em rios me acrescento, onde não venta.
 
(NEJAR, Carlos. Amar, a mais alta constelação: sonetos. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1991, p.46.)
 
Assim, doutos e doidos,
com cautelas e afoitos
vivemos.
E viver é uma incrível violência.
Nenhuma ciência é maior
que a de estar vivo.
(Árvore do mundo)
 

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